Notas do autor: Antes de iniciar a leitura deste sermão, é importante ressaltar que nós, cristãos, acreditamos que a Bíblia é a Palavra de Deus e não contém erros em relação à mensagem divina que ela transmite. No entanto, é necessário reconhecer que existem desafios e nuances na interpretação dos textos bíblicos, o que pode levar a diferentes compreensões e interpretações entre os estudiosos e leitores. É fundamental abordar esses ensinamentos com humildade e buscar a orientação do Espírito Santo ao estudarmos e compartilharmos a Palavra de Deus.
É imprescindível que evitemos, a todo custo, reproduzir pregações descontextualizadas, pois isso pode resultar em tradições que se distanciam da verdade bíblica. É fundamental compreendermos a importância de interpretar corretamente as Escrituras, levando em consideração o contexto histórico, cultural e literário em que foram escritas. Somente assim poderemos transmitir a mensagem bíblica de forma fiel e coerente, evitando distorções e enganos. Ao estudarmos e compartilharmos as Escrituras, devemos buscar a orientação do Espírito Santo, a fim de mantermos uma interpretação sólida e alinhada com a verdade revelada por Deus.
O paralítico do tanque de Betesda
Texto base: João 5:1-15
1 Depois disso havia uma festa dos judeus; e Jesus subiu a Jerusalém.
2 Ora, em Jerusalém, próximo à porta das ovelhas, há um tanque, chamado em hebraico Betesda, o qual tem cinco alpendres. 3 Nestes jazia grande multidão de enfermos, cegos, mancos e ressicados [esperando o movimento da água.] 4 [Porquanto um anjo descia em certo tempo ao tanque, e agitava a água; então o primeiro que ali descia, depois do movimento da água, sarava de qualquer enfermidade que tivesse.] 5 Achava-se ali um homem que, havia trinta e oito anos, estava enfermo. 6 Jesus, vendo-o deitado e sabendo que estava assim havia muito tempo, perguntou-lhe: Queres ficar são? 7 Respondeu-lhe o enfermo: Senhor, não tenho ninguém que, ao ser agitada a água, me ponha no tanque; assim, enquanto eu vou, desce outro antes de mim. 8 Disse-lhe Jesus: Levanta-te, toma o teu leito e anda. 9 Imediatamente o homem ficou são; e, tomando o seu leito, começou a andar. Ora, aquele dia era sábado. 10 Pelo que disseram os judeus ao que fora curado: Hoje é sábado, e não te é lícito carregar o leito. 11 Ele, porém, lhes respondeu: Aquele que me curou, esse mesmo me disse: Toma o teu leito e anda. 12 Perguntaram-lhe, pois: Quem é o homem que te disse: Toma o teu leito e anda? 13 Mas o que fora curado não sabia quem era; porque Jesus se retirara, por haver muita gente naquele lugar. 14 Depois Jesus o encontrou no templo, e disse-lhe: Olha, já estás curado; não peques mais, para que não te suceda coisa pior. 15 Retirou-se, então, o homem, e contou aos judeus que era Jesus quem o curara.
João F. Almeida Atualizada
Introdução: Existem muitas pessoas hoje em dia que são impossibilitadas de andar e precisam de ajuda para se locomover. No entanto, na época de Jesus, a falta de mobilidade era um problema muito maior, pois a tecnologia para auxiliar as pessoas com deficiência física era muito limitada. Nesta passagem, vamos falar sobre a cura do coxo de nascença por Jesus, um milagre que transformou a vida desse homem para sempre.
I. O contexto do milagre: No versículo 1, somos informados de que havia uma festa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. A presença de Jesus durante essa festa ressalta sua dedicação em estar com as pessoas em momentos importantes. A festa mencionada pode ser a Páscoa (ano 28 d.C. – Bíblia Shedd) , uma das festividades mais significativas para o povo judeu, que celebrava a libertação do povo de Israel do Egito. É um momento de alegria, comunhão e reflexão sobre a fidelidade de Deus.
Alguns pontos muito importantes:
- Betesda (ou Betezda) significa : Casa de Misericórdia. Alguns manuscritos trazem o nome “Casa da Oliveira” (Bíblia Shedd).
- Os textos entre colchetes no texto bíblico indicam que essas informações não estavam presentes nos manuscritos originais, fornecendo uma perspectiva sobre a forma como o relato foi transmitido ao longo dos anos, ou seja, transmitido por tradição. O nome técnico dado a textos adicionados tardiamente em documentos antigos é “interpolação”. Interpolação refere-se à inserção de trechos ou passagens em um texto original após sua criação inicial. Essas inserções podem ocorrer por várias razões, como a intenção de acrescentar informações, esclarecimentos ou interpretações posteriores ao texto original. O estudo das interpolações em textos antigos é importante para os estudiosos que desejam compreender a evolução e a autenticidade desses documentos.
- O Versículo 4 está faltando nos melhores manuscritos do texto original, mas Tertuliano (145-220 d.C.) faz referência a essa tradição (Bíblia Shedd).
- A presença dos enfermos, coxos e outros necessitados junto ao tanque de Betesda não implica necessariamente na descida de um anjo para agitar as águas, mas sim na crença popular de que isso poderia ocorrer. A fé das pessoas naquela possibilidade demonstra a esperança que depositavam em algum tipo de intervenção divina para sua cura.
- O paralítico que encontramos junto ao tanque de Betesda, cujo nome reflete a forma como era visto naquela sociedade, é apenas considerado como “um paralítico”. Ele é um ser desvalorizado, marginalizado e relegado ao esquecimento. Incapaz de sequer se mover na concorrida busca pelo “banho milagroso”, podemos apenas imaginar a sua posição deitada em uma maca. Fechando os olhos, podemos visualizar o que ele presenciava: pessoas passando apressadas, o som dos animais balindo, e podemos até sentir o odor das fezes das ovelhas e o cheiro impregnado nas pessoas deitadas por longos anos em locais sujos, como calçadas e ruas.
- Imaginamos também que, além de todas as suas limitações físicas, aquele ser humano, nosso semelhante, enfrentava a carência de suas necessidades básicas, incluindo a alimentação. Ele vivia ali, dependendo de migalhas e de qualquer ajuda que pudesse encontrar. A sua condição de vida era marcada pela escassez e pela dependência dos outros.
- Assim como as pessoas naquela época aguardavam no tanque de Betesda, esperando por um suposto milagre, também nos dias de hoje, milhões de indivíduos são iludidos por falsas promessas, adoram falsos deuses e seguem falsos profetas.
II. A compaixão e o poder transformador de Jesus:
- A compaixão que move Jesus: Ao se deparar com o homem deitado junto ao tanque de Betesda, Jesus é movido por uma profunda compaixão. Ele não apenas enxerga a condição física do enfermo, mas também compreende sua angústia, solidão e marginalização. Jesus se importa com o sofrimento humano e deseja trazer alívio e esperança.
- Além da cura física: Jesus vai além da crença popular na descida do anjo e age com o amor e o poder divinos. Sua intenção não se limita apenas à cura física, mas também à restauração completa do indivíduo. Ele oferece àquele homem uma oportunidade de transformação, não apenas em seu corpo, mas também em sua mente, emoções e relacionamentos.
- A pergunta transformadora: Ao questionar o homem: “Queres ficar são?”, Jesus revela sua disposição em mudar a realidade do paralítico e sua prontidão para agir de acordo com a fé demonstrada. Essa pergunta desafia o homem a refletir sobre sua própria vontade de mudança e de buscar a cura. Jesus reconhece a importância da participação ativa do indivíduo na busca por transformação e oferece a oportunidade de uma nova vida.
III. A reação e o questionamento dos judeus:
- O confronto com a tradição religiosa: Após a cura do paralítico, os judeus questionam a ação do homem ao carregar o leito em um sábado, ressaltando a rigidez da tradição religiosa e sua ênfase na observância legalista. Essa reação revela a resistência à mudança e à manifestação do poder transformador de Jesus. O confronto entre a tradição e a graça de Deus se torna evidente nesse momento.
- A prioridade da misericórdia e da graça: Jesus confronta a mentalidade legalista dos judeus, destacando que o propósito de sua ação não era violar a lei, mas sim trazer cura e libertação. Ele enfatiza a importância da misericórdia e da graça de Deus, que transcendem as limitações da tradição e estão acima das regras estabelecidas pelos homens.
- A resistência à libertação e ao poder curador de Jesus: Os questionamentos dos judeus revelam uma resistência em aceitar a liberdade e o poder transformador que Jesus oferece. Eles não apenas buscam manter o status quo, mas também procuram impedir que mais pessoas sejam libertas por meio do poder curador de Jesus. Essa reação destaca a luta entre o poder divino e aqueles que preferem manter as pessoas em escravidão espiritual.
IV. O encontro no templo e a advertência de Jesus: Jesus encontra novamente o homem curado no templo. Essa é uma indicação de que o milagre não foi apenas físico, mas também trouxe uma restauração espiritual. Jesus o adverte: “Olha, já estás curado; não peques mais, para que não te suceda coisa pior.” Essa advertência ressalta a importância da gratidão, do arrependimento e da responsabilidade em seguir os caminhos de Deus após recebermos a cura e a transformação em nossas vidas.
Conclusão: A cura do coxo de nascença nos mostra que Jesus não se importa com as tradições religiosas ou com a condição social dos indivíduos. Ele está disposto a oferecer cura, libertação e esperança a todos, independentemente de sua situação. Nesse relato, somos chamados a refletir sobre nossa postura diante do sofrimento alheio e a seguir o exemplo de Jesus, buscando compaixão, misericórdia e amor ao próximo.
Infelizmente, mesmo nos dias atuais, muitas pessoas continuam sendo enganadas por falsas promessas, falsos deuses e falsos profetas. Assim como aqueles que esperavam pelo suposto milagre no tanque de Betesda, milhões de pessoas ao redor do mundo são iludidas por práticas religiosas questionáveis e mensagens vazias. É importante estarmos vigilantes e firmes na nossa fé, discernindo a verdade da mentira, buscando uma conexão genuína com Deus e sendo guiados pelo Espírito Santo.
Devemos ter cuidado para não nos deixarmos levar por ensinamentos enganosos, mas sim ancorar nossa fé na Palavra de Deus e na pessoa de Jesus Cristo. Somente Ele possui o poder transformador e a capacidade de trazer verdadeira cura e libertação. Que essa história nos inspire a valorizar o poder transformador de Jesus em nossas vidas e a compartilhar essa esperança com o mundo ao nosso redor. Que sejamos agentes de compaixão e amor, levando a verdade e a luz de Cristo a todos aqueles que ainda vivem em engano e desesperança.